quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Não Confie nos Arquivos

Não é mesmo estranho que justo o horror seja o gênero que mais vem utilizando a linguagem da câmera-de-arquivo? "A Bruxa de Blair", "Rec", "Cloverfield", "Contatos do 4º Grau"... Parece que o formato de "imagem de arquivo" vem sendo usado como uma forma de emprestar credibilidade ao gênero.

Por mim, tudo bem: gosto da perspectiva de aproximar o horror (e de uma forma mais ampla, o fantástico) do meu mundinho cotidiano, que a cada dia se forma mais e mais da imagem eletrônica. Mas foi justamente com "Atividade Paranormal", certamente o mais simples e mais coerente entre dos "filmes de horror de arquivo", que senti essa credibilidade sofrer um abalo...

Nos momentos em que assusta, "Atividade" é um puta exemplo de "mais por menos". Sombras, ruídos de passos, pequenos objetos que se movem ou apenas o bom e velho silêncio são usados de forma a estimular a imaginação e fazer o espectador achar que vê mais do que está diante da tela.

Mas se por um lado o filme deixa o silêncio e a sugestão correrem soltos para provocar os sultos, por outro fala demais e mostra demais na hora de construir os personagens. Se você quer jogar o jogo da câmera-de-arquivo, precisa seguir suas próprias regras de verossimilhança: qual o sentido de operar uma câmera durante uma discussão de casal? O que esses momentos estariam fazendo numa "montagem feita pela polícia do material encontrado na casa do casal"? Esse é um material interessante para a construção de uma narrativa clássica, mas são coisas que simplesmente não cabem no jogo da "câmera-de-arquivo" - e, pior, sugere uma "naturalidade forçada" que rouba sua credibilidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Daniel, acho que foi esse o maior problema que vi nele também. Ele cria essa aproximação com o espectador por conta da camera mas alguma vezes não consegue explicar o que a câmera faz ali. O que era muito mais justificável n'A Bruxa de Blair ou Cloverfield por exemplo. Tudo bem que eu não empunharia uma camera pesada durante uma fuga, mas tem quem o faça.

Em algumas cenas o vídeo se transforma em um plano detalhe na tela do pc do casal, o que tambem invalidaria a idéia de registro intocado. estranho, mas ainda assustador.

btw, vim comentar aqui pq tu falou lá no meu orkut rs

Daniel Bandeira disse...

Claro, o filme não deixa de ser assustador. Mas penso no quanto ele morderia mais a bunda do espectador se fosse mais fiel ao seu próprio jogo. Cortes de cena poddem ser mais assustadores do que a imagem de um corte na carne...